30 novembro, 2006

Pedagogia da Oralidade



Pedagogia da Oralidade
Por: *Lisio Lili

Nas sociedades indígenas a oralidade tem muita importância. Insistir em validar entre eles, aquele conhecido adágio de que vale o que está escrito, não subsistiria, pois lá vale a palavra falada.

Na sociedade indígena a palavra expressa, equivale ao valor dado ao direito impresso na sociedade ocidental. É recorrente ouvir, quando pretendemos validar determinada vontade, nessa sociedade, a expressão, isso esta escrito!

Na sociedade indígena é diferente, a base para fundamentação daquela determinada vontade está relacionada a memória, a origem, a aquilo que o antepassado disse. Ao fundamentar determinada vontade hão de dizer, isso foi dito!

Os índios dão muito valor na palavra, pois promove a interlocução, exercita a memória, prepara argumentos, fortalece os vínculos, na verdade estimula duas capacidades que são ouvir e falar.

Entre os índios, tanto a mulher quanto os mais velhos tem papeis de destaque, pois são responsáveis pela manutenção da oralidade, por elas são transferidas os ordenamentos da boa relação na comunidade, restando aos mais velhos a transferência da memória.

Na sociedade indígena a pedagogia da oralidade precede a pedagogia da leitura e da escrita, pois entre eles a comunicação é parte de um estratégico código de sobrevivência. Registrar para muitos, até aos dias de hoje, é disponibilizar intimidade.

A oralidade entre os índios é a mantenedora da democracia da informação, desestimuladora permanente da exclusividade da noticia.

A singularidade da oralidade indígena é imensa, na sociedade kadiweu, alguns vocábulos são exclusivamente femininos, entre os kaiowás guaranis, periodicamente os nomes das crianças são substituídas.
Como registrar?

texto: Lisio Lili é Coordenador das Organizações Indígenas e Presidente do Parlamento Indígena do Pantanal