28 novembro, 2006

CONSCIÊNCIA HISTORICA – REESCREVENDO AS ESTÓRIAS E HISTÓRIAS DOS INDIOS NO BRASIL




Êxiwa - A Cosmovisão Terena
Por: *Lisio Lili

Ôpi, uma tia muito querida, recentemente perdeu uma das filhas que residia em Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo. Os filhos preocupados com a sua saúde, dado a idade de mais de 80 anos, resistiam em comunicar-lhe do falecimento. Dias depois, os seus netos André José, Diretor de uma conceituada Instituição Educacional e Jader Jorge de Oliveira, Presidente de representativa missão indígena, foram visitá-la, preocupados como seriam recebidos, pelo fato de que a omissão acabou chegando ao seu conhecimento.

Na recepção, a avó foi logo verbalizando sua indignação, ante a indelicazadeza de não ter merecido sequer aviso do passamento da filha, ambos replicaram argumentando que certamente as pessoas agiram de boa fé, no sentido de preservá-la de sofrimento.

Contra-argumentou, ante os netos atônitos, de que não se chateará com as pessoas, mas com a falha reprovável do sonho, que se furtará do seu papel de anunciar.

Os terenas correlacionam o mundo secular e espiritual. Os lideres espirituais transitam ou buscam informações e conhecimentos no Exiwá. Esse estagio é o que denominam de cosmovisão. Deposito de todas as respostas da vida terena. Alimentadora da tradição terena.

È na cosmovisão que estão informações necessárias para a leitura e compreensão da vida terena. É ali que os desarranjos são detectados. Os desarranjos são compreendidos como parte do viver terena, de forma que anualmente por ocasião do Hanaitî Kaxê (Grande Dia) todos os desarranjos são rearrumados.

No mundo real as desavenças presentes são objetos de acerto. São de toda ordem, desde as de ordem familiar até aquelas referentes aos conflitos de clãs. A derradeira instancia da conciliação é denominada Ipuhônoneoti, acerto definitivo de contas entre as partes.

Os desarranjos precisam sofrer reparos, porque no mundo terena o porvir é presente e não futuro, sendo muitas vezes incompreensível o perdão e a graciosidade, pois a estrutura indígena, agredida desarranja.

Nesse evento, por ocasião da presença no céu da estrela Ûve, entre os meses de maio a junho, que significará o final e inicio do calendário terena, há uma conferencia entre os lideres espirituais no sentido de conhecer as expectativas do futuro.

Edgard Morin, pensador francês, diz que o milênio que chega, está totalmente embarcado na incerteza sobre o porvir, Lucio Flores, sociólogo terena, diz que as certezas dantes imutáveis permite pensar que é chegada a hora do mundo cristão ser indianizado pelo mundo indígena, Tia Ôpi, cujo pensamento ainda que simbólico, mágico e mitológico como os pensadores da modernidade diriam, busca conforto no Exiwá, para superação da dor por qual passa.

Texto: Lisio Lili é Coordenador das Organizações Indígenas e Presidente do Parlamento Indígena do Pantanal